2 Pesos ... Várias Medidas
Muito se fala da fila da adoção e o porquê a conta não fecha.
Importante sinalizar o fato de que o desejo de ter filhos por meio da adoção é inicialmente buscado por famílias que desejam crianças bem pequenas.
Sabe o ditado?
- “nasce, cresce, reproduz e morre.”
Junto a este ditado vem o sentimento do ter um filho gerado, mesmo quando a única possibilidade é através da adoção. O fato de pegar uma criança no colo e esta criança ser totalmente dependente e o pai/mãe ou os pais serem os seus defensores, si, é fator que predomina quando conversamos com quem deseja adotar.
E a Culpa é de quem?
Não se pode culpar as famílias em desejar adotar um bebê ou uma criança pequena. Claro que não.
Cada um sabe de suas reais capacidades.
Então vamos falar sobre o desejo de ter um filho adotado e ter de ser um bebê...
Motivos
Os motivos que levam uma família a esta escolha, sim é uma escolha, são os mais variados e cheios de dúvidas, anseios e medos. Esses últimos sentimentos devem ser abordados e explicados de forma simples:
"Mesmo sendo um filho gerado ele pode dar defeito, sabiam?"
Estamos falando em um ser humano que assim como nós passamos por mudanças. Mudanças essas que são de humor, de comportamento, gostos, preferencias, etc...
E também de possíveis mudanças de caráter. Somos seres humanos, ora bolas.
E somos donos de nosso próprio nariz.
2 Pesos...Várias Medidas
Um exemplo claro é o de um casal que tem 2 filhos:
Um estudioso, atencioso, educado, gentil e respeitador
Já o outro é da pá virada. Respondão, agressivo, desleixado com os estudos, preguiçoso...
E com certeza os pais se perguntam, e as vezes me perguntam:
"...Onde eu errei...dei a mesma educação para ambos. Como podem ser tão diferentes?"
Respondo:
- São duas pessoas diferentes em sua essência, em sua personalidade.
Não se pode culpar os pais.
E assim é para toda e qualquer família.
Os Medos
Falando nos medos, podemos citar os argumentos, como:
· Quero um bebê porque terei como colocar ele no eixo desde cedo.
· Quero um bebê para poder educar do me jeito.
· Se vier maiorzinho, já vem com vícios, manias, que não poderão ser mudados.
· Adotar uma adolescente é a certeza de que ele será um bandido., que ele será um drogado, que dará problema.
Essas são apenas algumas das respostas que ouço quando pergunto sobre a possibilidade de adotarem um adolescente. Ou como eu gosto de me referir aos adolescentes: CRIANÇAS MAIORES. Eles podem ter 15, 16 ou 17 anos mas sempre serão crianças.
Pergunte a seus pais e tios:
- Com qual idade você parou de dar trabalho?
E se prepare para ouvir:
- Você? Nunca parou. Dá trabalho até hoje.
Como diz aquele outro ditado:
- Filho criado...trabalho dobrado.
E é por aí.
Algumas famílias são bem contundentes quando falam:
- Não quero um bebê. São muito dependentes. Um maiorzinho já passou pela fase chata de trocar fralda, dar comida na boca, levar ao banheiro, etc...
Essas famílias aceitam um filho maior por acharem mais prático e menos trabalhoso.
Já ouvi afirmativas como:
Já temos um filho gerado e queremos mais um. Mas este tem de ser adotado.
E os motivos são os diversos:
- Não quero passar por enjoo, vômito, má posição para dormir, para respirar.
- Não quero passar pela dor de parto novamente...Cesária, resguardo, pontos...não mesmo.
São tantas histórias que as vezes me sinto um centenário a relatá-las.
Meu filho mais velo diz que meu codinome deveria ser: "Era Uma Vez!" ... Que eu tenho história pra tudo.
Talvez pelo fato de que eu sempre gostei de conversar, de ouvir as experiências dos mais velhos e das outras pessoas.
Uma Faca de Dois Gumes
Por que a conta da Adoção não fecha?
Sabe uma faca de dois gumes? A que vou falar nas linhas abaixo tem vários gumes. Assim como um canivete suíço. Só depende de nós organizarmos cada uma de suas potenciais lâminas.
De um lado temos as famílias que só aceitam adotar bebês;
De outro, crianças maiores;
Do outro, grupos de irmão;
Do outro, o Judiciário...precário, com suas Equipes Técnicas defasadas e com profissionais em número insuficiente....
Temos um sistema operacional que não se comunica entre os poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário como deveria se comunicar.
Na teoria é lindo. Mas na prática...não é bem assim.
À cada mudança de governo um novo Cadastro, Sistema, diretores, secretários, etc...
Mas as crianças são as mesmas...crescendo, crescendo e lá se vai a oportunidade de ter uma família.
E temos também uma parcela da sociedade que é descansada a ponto de dizer:
- Eu não quero adotar.
- Eu já tenho meus filhos biológicos, pra que me preocupar com as crianças nos abrigos...os pais deles que deveriam se preocupar antes de fazerem eles.
As palavras são duras, eu sei. Mas são reais.
Esses últimos relatos retratam o perfil de uma boa parte de nossa sociedade atual.
Uma sociedade que se esquece rapidamente das coisas.
Uma sociedade momentânea.
Um exemplo claro disso é o mês em que estamos:
"MAIO, O MÊS DA ADOÇÃO"
Não se ouve falar tanto sobre adoção quanto em maio.
E os outros meses do ano?
As vezes em outubro, o mês das crianças, e em dezembro, Natal, também os abrigos são lembrados. Mas as crianças não.
- "Ora Jô, são sim...todos que visitam levam presentes para elas."
Mas será que é de PRESENTES que as crianças abrigadas necessitam?
A Pulga Atrás da Orelha
Este artigo NÃO tem o objetivo de responder as dúvidas. Mas sim de fomentar os questionamentos e deixá-los com a pulga atrás da orelha se perguntando:
- O que eu posso fazer realmente?
- O que eu tenho feito para a sociedade em que eu vivo?
Um Forte Abraço, Criaturas Queridas;
Reflitam sobre a Adoção.
(por Josemar Rodrigues)
#adocaotardia
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